Esther Mahlangu é uma premiada artista visual e celebrada embaixadora da cultura sul-africana. Ela nasceu em 1935 e pinta desde os 10 anos de idade. A The Melrose Gallery, galeria sul-africana localizada em Joanesburgo e Cape Town, está realizando a mostra virtual Esther Mahlangu 85, que pode ser acessada aqui e é uma oportunidade imperdível de ter contato com suas obras.
Os trabalhos de Mahlangu tem como inspiração a arte dos Ndebele, grupo étnico do qual ela faz parte. A etnia Ndbele é uma das nove que constituem a África do Sul e é famosa pelos padrões geométricos e coloridos que estampam suas casas. A tradição da pintura é antiga e passada de geração em geração pelas mulheres da família. A arte de Mahlangu, globalmente aclamada, começou a se tornar conhecida por adaptar os padrões tradicionais ao formato de antigas lâminas de gilete, e acabou por levar a cultura Ndebele para muitos dos museus mais respeitados do mundo, além de coleções públicas e privadas.
Ao mesmo tempo que se mantém ancorada na tradição cultural Ndebele, escolhendo viver em uma área rural da província de Mpumalanga, na África do Sul, Mahlangu passa um tempo considerável em muitas das maiores cidades do mundo, onde colabora com museus, feiras de arte, curadores, celebridades e respeitadas marcas globais.
Ela é considerada visionária e disruptiva, sendo a primeira pessoa a reimaginar o tradicional design Ndebele em meios contemporâneos. Seus traços foram colocados em tudo: de telas, paredes, cerâmicas, tênis e portas a carros, aviões, bicicletas, motos e pistas de skate.
Isso a levou a colaborações globais com marcas como Rolls-Royce, BMW, Fiat, South African Airways, British Airways, Belvedere Vodka, The Smithsonian Museum, Freshpak Rooibos, e celebridades como John Legend.
Em 2020, se tornou a primeira artista do mundo a ser comissionada para pintar uma obra de arte para a “galeria” do novo Rolls-Royce Phantom, que foi batizado de ‘The Mahlangu’ em sua homenagem.
Análise Curatorial de Ruzy Rusike
A exposição Esther Mahlangu 85 mostra como suas escolhas de cor não são abstratas, mas a demonstração de uma geometria sagrada – uma linguagem de formas e cores. Sua arte é uma história ligada à sabedoria de seus ancestrais, retratando o legado de sua mãe e sua avó. Hoje, ela compartilha conosco uma história de vida distintamente clara, traduzida de forma geométrica e colorida para a linguagem da arte.
Quando nós pensamos em natureza, geralmente não pensamos em geometria – mas deveríamos. A natureza é baseada em estruturas geométricas fundamentais. Trabalhada em diálogo com o universo, Esther Mahlangu 85 é uma exposição que celebra a contemplação do espaço e da cor, abundantes e acentuados.
Esther NikwambiMahlangu vem de Middelburg, Mpumalanga – lugar cujo nome significa “onde o sol nasce”. Isso complementa sua estética artística: uma estética de luz, vida e cor. Ela é uma artista cujo renome internacional não nega sua casa e sua unida comunidade. Essa comunidade se vale de uma luz que nasce e brilha, iluminando sua história geracional de signos e símbolos. Os sinais dela indicam a direção em que você deve ir. Seus símbolos refletem quem você é. Sua habilidade de trabalhar com ambos para criar um entendimento universal é totalmente atemporal.
Foi outro artista – Shakespeare – quem disse “para ti mesmo seja verdadeiro”. Essas palavras ressoam eternamente através do tempo e podem ser aplicadas ao trabalho de Mahlangu, Mam Esther, Esther Mahlangu, Gogo, Mãe, Filha da África. Aplicar um único título a ela parece falso – ela carrega cada um desses títulos e muitos outros. Seu trabalho dialoga com um profundo entendimento de si mesma. Ao desafiar e definir sua própria identidade cultural, Mam Esther nos convida a olhar pra nós mesmos. Sua autoconfiança e engenhosidade resultam em uma arte verdadeiramente emancipada – respeitadora da influência cultural, mas ainda original em sua encarnação.
Mam Esther vê seu trabalho agraciar não apenas salas de institutos de arte convencionais, mas ser representado na cultura popular e mídia alternativa através de carros, aviões, manequins, bolsas, e agora – primorosamente – esculturas. Enquanto escultura e pintura Ndebele não são uma combinação particularmente convencional, há algo de natural em ver a arte de Esther transferida para esse meio.
O trabalho de Mahlangu ser tão acessível fez dela uma mulher particularmente universal. Sua profunda presença é um triunfo em um contexto de inacessibilidade à arte e história da arte africana. Ao seguir a carreira de Mam Esther, nós testemunhamos uma linha do tempo de cultura, história, arte e identidade do que foi e continua a ser criado. Sua arte é atemporal, passa pelo pré e pós Apartheid e chega ao mundo da revolução digital.
Texto original e fotos: The Melrose Gallery
Foto em destaque: Real Life Magazine