Por Tati Isler
Experiências como essa pandemia geram reflexões sobre o que é essencial a respeito da nossa existência. Um olhar para o significado da vida e da morte. A vontade de ser feliz. Maneiras de lidar com o medo e a insegurança do futuro, ainda tão incerto para toda a humanidade. Para se aprofundar sobre as questões fundamentais da nossa existência, entrevistamos o líder espiritual dos Ishayas do Bright Path, Maharishi Krishnananda Ishaya (MKI), responsável pelo ensinamento da Ascensão (meditação) Ishaya em todo mundo. MKI é o Professor dos monges Ishayas, que ensinam essa técnica de meditação em mais de 30 países. Temos hoje em torno de 600 monges Ishayas no mundo e quase 30 mil praticantes desse ensinamento milenar. No Brasil são 29 professores (monges) Ishayas e mais de 2 mil praticantes. Para saber mais sobre essa meditação, acesse: www.thebrightpath.com.
Ti Transforma. O que é a morte?
Maharishi Krishnananda Ishaya: Morte é deixar o corpo físico ir. Quem você é não morre. Sua essência é imortal. Quando chega a hora, descartamos o corpo, assim como descartamos um carro velho. A gente o usa para crescer e depois descarta. Você, quem você é, jamais morre. É imortal.
Precisamos temer a morte?
Claro que não precisa temer. É engraçado que as pessoas querem saber sobre vida depois da morte e o que me interessa é que as pessoas aprendam a viver antes da morte. É sobre como você vai viver essa vida. Não é sobre morte, é sobre vida. O medo deveria ser não viver.
Como podemos passar por esses tempos tão brutos da melhor forma possível?
Não é possível causar impacto de forma nacional ou global sem trabalhar a consciência humana. Simplesmente não funciona. Qualquer ação que não tente expandir a consciência humana vai fracassar em seu objetivo porque as soluções serão limitadas. As pessoas estão inspiradas a ajudarem umas às outras, e isso é maravilhoso, mas o fato é que precisamos fazer um trabalho melhor em elevar a consciência humana porque só então as soluções poderão vir de um outro lugar que não seja o lugar que fez nascer os problemas. É usualmente em episódios de grandes tragédias que as pessoas buscam elevar suas consciências. Historicamente, coisas boas surgem de tragédias. Depois do 11 de setembro o número de pessoas buscando meditação, autoconhecimento e alguma forma de paz aumentou muito. Depois da Gripe Espanhola, que matou milhões no mundo todo, vieram os anos 20, que foram anos de celebração e de grande vigor pela vida. Quando sairmos disso acho que vamos olhar para trás e ser capazes de ver coisas boas, incluindo mudanças em governos, nações, sociedades, culturas etc. Hoje vemos as coisas negativas porque há muito sofrimento sendo exposto. Mas estamos sendo chacoalhados e assim saímos da zona de conforto. Isso é bom. Muita gente está se vendo insatisfeita com a vida de hoje e vai querer mudanças. Isso não é ruim.
Quando a vida chacoalha a gente o que devemos fazer?
Em algum ponto de nossas vidas a gente para e pensa: a vida tem que ser mais do que isso. Não pode ser apenas sobre sobreviver. E é nessa hora que a gente começa a querer e buscar mais. Às vezes a inquietude vem com uma doença, alguma coisa que nos aproxima da morte. Todas as vidas passam por um momento como esse, de um jeito ou de outro. Uma pessoa que pratica a meditação Ishaya foi sequestrada, teve que ficar no porta mala de um carro por mais de um dia, e em vez de se desesperar, passou esse tempo meditando. Quando os sequestradores abriram o porta malas ela estava ótima e eles perguntaram, como? E a deixaram ir. Depois desse episódio, todos os integrantes de sua família começaram a meditar. É uma história real e incrível.
Por que devemos meditar?
Fizemos pesquisa com pessoas que meditam e como isso impactou suas vidas. Todas dizem que encontraram paz de espírito. Felicidade e relacionamentos melhores são consequências dessa paz, e as pessoas citam isso na pesquisa. Você não medita para os seus problemas irem embora porque eles não vão embora, você meditar para lidar com eles de outra forma a partir dessa paz interior. É muita coisa. Por isso fecho os olhos três vezes por dia, por 20 minutos cada. Não é tanto sobre a experiência durante esses 20 minutos, mas é sobre o que acontece quando abro meus olhos outra vez.
Essa paz está ao alcance de todos a despeito de classe, crença, cor, gênero…?
Sim. Temos trabalhos em comunidades e em prisões e podemos testemunhar isso. A paz interior está ao alcance de todos. Uma vez ensinei numa prisão de segurança máxima para mulheres e muitas delas não dormiam há anos, com medo de que alguém pudesse matá-las ali dentro. E o resultado foi surpreendente, puderam dormir e descansar depois de muitos anos. E perguntamos o que mais elas desejavam na vida, e elas disseram: paz. Não era mais sair dali. Era paz. Não adiantava abrir a porta das prisões e deixá-las sair se não estivessem em paz porque elas levariam a tormenta com elas. Paz antes de sair daqui, elas me disseram. Claro que queriam sair, mas entenderam que a paz interior era mais fundamental.
O que dizer para quem está passando por essa pandemia e ainda não tem a ferramenta da meditação?
Uma das coisas que podem ajudar é jogar o aparelho de TV pela janela. Talvez não o aparelho porque isso seria perigoso e caro, mas o controle remoto pode ser jogado. A quantidade de informação negativa que a gente recebe tem impacto no nosso senso de bem estar. A gente vive onde a gente coloca nossa atenção e se nossa atenção esta nos problemas do mundo é ai que vamos viver. Quando houve um terremoto no México, um estudo mostrou que pessoas que estavam longe dali mas vendo as notícias pela TV por cinco ou seis horas mostraram mais ansiedade do que aqueles que estavam no local. Tem gente que acha que precisa estar super atualizado sobre a tragédia, e para isso assiste 10 horas de TV por dia. Isso não é bom. Cria uma quantidade de stress enorme. Se você não quer meditar, desliga a TV e pega um livro. Um livro relaxante. Ou faz um caderno de gratidão por exemplo. Todos os dias seja grato a uma lista de coisas. É um truque maravilhoso porque você não pode estar ansioso e grato ao mesmo tempo, nem amedrontado, angustiado e grato ao mesmo tempo. A gratidão neutraliza a frustração, o stress e o medo.
O que você diria se pudesse falar com o mundo inteiro agora?
Despertem e rujam. Despertem! Todos podemos experimentar o divino dentro de nós. E quem já alcançou a paz, suba numa montanha bem alta e conte pra todo mundo como faz. Somos incríveis criadores. Temos que despertar para uma nova vida. Paz é uma escolha. Se todos soubessem disso começariam a procurar por ela. Temos que contar isso para todos. Se eu tivesse esse poder eu chacoalharia a terra para que todos pudessem acordar dessas vidas. Nossa missão enquanto monges é fazer as pessoas acharem isso e serem felizes. Um mundo diferente vem dessa Consciência. Às vezes a gente esquece disso e olha pra fora, culpa governos ou pessoas, mas isso não vai resolver nada. A mudança precisa começar dentro de cada um de nós. Uma pessoa feliz pode impactar outras. “Eu quero o que ela tem. Eu quero alcançar esse estado”, muitos vão dizer. Precisamos oferecer esperança. Somos distribuidores de esperança. Que descrição de trabalho linda essa.